Houve então um aglutinamento das
pessoas formando assim vários grupos que se espalhavam pelo território
brasileiro levando algum tempo para q se comunicassem entre si.
Esses grupos tinham uma base cultural erudita de caráter religioso de padrão básico q se ia difundindo.
A identidade brasileira caracteriza-se por seu vigor e flexibilidade, esta tornou-se a principal arma utilizada pelos povos aqui existentes (índios), para a conformação, o ajustamento e a sobrevivência entre os muitos e sucessivos círculos produtivos, preservando desta forma sua unidade essencial. Mas surge aí variantes principais da nossa cultura: crioulos, caipiras, sertanejos, caboclos e gaúchos.
Na formação econômico-social o Brasil desenvolve-se como subproduto de um empreendimento exógeno de caráter agrário-mercantil, de estrutura dependente dos povos ibéricos.
Mas com grupos tão iguais e tão diferentes, ocorre o extraordinário onde nós conseguimos fazer desse aglutinado um povo-nação que engloba todas as províncias em uma só entidade cívica e política.
O Brasil Crioulo
A primeira empresa agroindustrial exportadora a surgir no país foi o engenho açucareiro. A cana-de-açúcar necessitava apenas de terras tropicais férteis e frescas, e de uma prensa de madeira e ferro construída pelos portugueses, o que contribuiu para que os canaviais e engenhos se multiplicassem de acordo com a disponibilidade de mão-de-obra e a amplitude do mercado consumidor europeu.
O produto extraído da cana-de-açúcar deixa de ser privilegio dos mais abastados, pois com a queda do preço e crescimento da produção eles se transformaram em produto comercial comum. O açúcar tornou-se a principal mercadoria do comercio internacional.
Por volta de 1650 com a produção holandesa nas Antilhas a todo vapor, a nossa economia açucareira entra em crise, mas persiste como nosso maior atrativo, até 1700, que é quando inicia o ciclo do ouro.
A feição cultural crioulo nasce em torno da economia do açúcar, englobando todas as suas ramificações. Era uma organização singela economicamente e mais complexa com população miscigenada, de estrutura familiar e de poder que atendia somente a eficácia do empreendimento.
A área cultural crioula compreende a resultante da implantação da economia açucareira e seus complementos na faixa que vai do Rio Grande do Norte à Bahia. Englobava-se aí a produção de tabaco, aguardente, rapadura e mais tarde o cacau, ampliando assim esta área cultural. A polaridade social básica dessa economia era o senhor de engenho que se abrasileirava cada vez mais em seus hábitos e o escravo que vivia debaixo do domínio do senhorio.
O escrava, negro ou índio, também abrasileirava-se no mesmo rítmo e profundidade do seu senhor. Escravos estes que eram uma força oposta ao sistema, quase incapaz de ser destruído, do qual, mesmo que fugindo para os quilombos, conseguiam desvensilhar-se, pois dependiam dele para prover-se de elementos indispensáveis para sua existência.
Eram forças opostas, mas que se complementavam e que reafirmavam a senhorialidade dos donos dos negros, que eram boçais e a força bruta do trabalho.
Dessa historia escravista nasce a primeira civilização de âmbito mundial onde a América era o assentamento, a África a força provedora e a Europa consumidora privilegiada.
Dentre os povos europeus, os portugueses eram os mais habilitados a trabalharem com o açúcar e o trabalho escravo. Os holandeses e franceses eram exitosos, mas experimentaram o cultivo.
O açúcar foi o modelo estrutural que foi aplicado ao cultivo de tabaco, anil e cacau. Mais tarde ao café, banana, ananá, chá, seringa, sisal, juta e soja, estas ultimas em já em regime assalariado. Os portugueses, alem do conhecimento do cultivo da cana, dominavam a navegação transoceânica tinham a disponibilidade de capital financeiro e espírito empresarial.
A produção açucareira exigia grandes extensões de terra, trabalhadores especializados, alta concentração de mão-de-obra, altos investimentos de capital... Tinham um caráter de empresa agroindustrial. Os engenhos eram compostos da casa grande e da senzala, onde trabalhavam mestre de açúcar, banqueiro e soto-banqueiro, vaqueiros... verificando-se assim a complexidade da força de trabalho da agroindústria açucareira.
O sistema de fazenda é marcado pela autocracia, pela atitude tão somente mercantil onde o escravo é visto como simples instrumento de ganho. O empreendimento açucareiro fora instituído e estimulado pela Coroa que via nele grande fonte de renda à metrópole, uma maneira de ocupar as terras recém-descobertas e resguarda-las de outras nações.
Assim o senhor de engenho dominava a sociedade inteira, submisso à ele estavam o clero e a administração reinol que integrava o sistema único que regia a economia, a política, religião e a moral. Diante disso o engenho era um local de disciplina e poder onde não havia espaço para a rebeldia ou reinvindicação. Do senhor dependiam todos, inclusive sua família que era o padrão ideal de organização familiar, onde a estabilidade estava assentada sobre o livre acasalamento com as mulheres do local.
Diante de algumas características de engenho, alguns estudiosos o classificam como feudal. Porem no âmbito econômico, verificamos que ele é empreendedor mercantil, dirigido por uma administração centralizada, com especialidades técnicas e funcionais. É um sistema agrário-mercantil de colonização escravista com o objetivo de produção monocultora para exportação.
E no mundo do engenho que se fundamenta a área cultural denominada cultura crioula.
Todos que nascem ou ingressam nesse mundo integram-se a ela como único modo de fazer parte da sociedade. A cultura crioula é a expressão da economia monocultora destinada à produção de açúcar. É um estilo de vida novo, de hierarquia rígida, com papeis distintos, arcaicos, pré-capitalistas, donde surge o colonialismo escravista.
Há um grande desenvolvimento da atividade econômica exógena no sentido pecuniário. A escravaria é vista como um instrumento eficaz ou não, lucrativo ou dispendioso de negocio.
O sistema feudal difere em vários pontos de sistema de plantação, este adota o sistema colonial-escravista, produzem lucros, vivem como camada subalterna; aquele sobrevive de acordo com sua concepção de vida, desfazendo-se à medida que crescia o setor comercial externo a ele.
A decadência da produção açucareira é evidente ao observarmos a sua incapacidade de integração da massa trabalhadora na economia de consumo, proporcionando-lhes um padrão de vida mais digno.
É de papel relevante da cultura crioula o senhor de engenho residiu na fazenda. Dessa forma o engenho não apenas produzia, mas mantinha o conforto e a “civilização” dos quais a família poderia usufruir. Torna-se assim o engenho de caráter familiar, onde as tarefas passam de gerações a gerações, reafirmando sempre a distinção de classe extremamente opostas.
A cultura crioula cresce e se diferencia, produzindo brancos e mestiços livres que passam a cultivar o tabaco, dedicam-se a lavoura e a cultura de subsistência. O tabaco passou a ser exportado, tornando-se a principal moeda de troca para compra de escravos na África.
Haviam ainda os pescadores, uma economia da pobreza, servindo somente para maior fartura alimentar mas não almejando riqueza.
O senhor só não era o topo da pirâmide hierárquica pois dependia de dois corpos da classe dominante: o patronato, que relaciona economia com mercado mundial e do patriciado governamental que cuidava de empreendimento colonial.
No âmbito religioso, os negros resistiram à cultura neobrasileira e mantiveram o culto aos seus deuses, cultos afro-brasileiros, que tiveram sua importância crescente.
Uma das formas mais bem sucedidas de colonização das Américas foi a economia açucareira do nordeste colonial, gerando muito lucro e permitindo aos senhores de fazendas altos índices de consumo.
A partir do século XVIII o mercado açucareiro se deteriora, entra em crise, sobrevive por séculos com baixa rentabilidade e rende-se aos poucos à mineração que passaria a ser a base da economia colonial.
Com o impácto da revolução industrial, surgem varias revoluções sociais, rebeliões contra a velha ordem. Destacam-se a ojeriza do povo ao lusitano, do negro com o branco, do nativo contra o estrangeiro e a tensão maior que era do escravo que era do escravo contra o senhor ficou abafada pela condição de homens livres brancos e mulatos e não por serem gente pobre e explorada.
Em 1817 houve uma verdadeira batalha em Pernambuco, onde os insurgentes conquistaram o poder, mas a oligarquia venceu custando-lhe para isso nove lideres enforcados em Pernambuco e quatro fuzilados na Bahia. Em 1831 e 1848 a área da cultura crioula convulsionou-se varias vezes, travando lutas, causando assim mortes e prisões. Havia a necessidade de abolir a escravidão de reforma agrária. Mas a velha ordem venceu consolidando a monarquia lusitana, a escravidão e o latifúndio. A abolição veio décadas depois.
O sistema de fazendas mergulha numa serie crise estrutural e os ex escravos, não tendo para onde ir, permanecem no eito. Os ex escravos juntaram-se assim aos brancos e pardos pobres que, para enfatizar sua superioridade, agiam de forma odienta com os negros. Esses ex escravos permaneceram respeitosos e servis aos senhores, pois não tinham perspectiva de sobrevivência fora das fazendas.
A economia açucareira sofre novo impacto em meados do século XIX, quando a tecnologia da revolução industrial invade seu domínio. Os antigos senhores passam a condição de fornecedores, e os que sobrevivem mudam-se para a área urbana, deixando a casa grande ao administrador, fazendo visitas periódicas à propriedade. Há ainda a disputa do mercado interno q contribui ainda mais para a crise açucareira, o velho senhor é substituído por um patronato gerencial de empresas que caíram em mãos de firmas bancarias.
A área de cultura crioula se baseia na economia do açúcar mas abrange varias atividades complementares com os núcleos de pescadores, os salineiros, o cultivo de cacau e tabaco e a exploração do petróleo que são meras variantes da cultura crioula. Mesmo depois da independência, poucas alterações afetam a vida dos assalariados que permanecem submetidos ao poder dos capatazes.
Entre 1960 e 1964 começam a rever as condições do trabalho rural, nessa luta empenhavam-se lideranças de esquerda e o novo clero que tentam combater contra a velha ordem. Foram criadas centenas de ligas camponesas e sindicatos rurais como jamais ocorrera antes. Em 1963 ficou estabelecido o pagamento em dinheiro do salário mínimo regional, o que causou protestos do patrionato.
Era o anuncio da morte do patronato, da obsolescência da cultura crioula tradicional, arcaica e a emergência da cultura moderna, industrial, que ordenaria as formas de vida social.
Por esse caminhos criou-se uma nova consciência de mundo e de si mesmo no alfabeto miserável, tomando para si uma atitude inconformada com a pobreza. Desse modo preenchiam-se as condições para a integração das populações rurais nordestinas como trabalhadores livres e o exercício do papel de cidadão de seu país.
Trabalho de Antropologia – prof. José Carlos Pires
Polyana Amaral
Bibliografia
RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro. A formação e o sentido do Brasil. Companhias da Latras. P – 269 – 305